domingo, fevereiro 13, 2005

Lembranças de um dia normal

Falar alto sozinho.
Se encontrar em um minuto.
Não acreditar em nada.
Se reformular de mil maneiras.
Para acabar como sempre começa.

O vento de uma tarde de fevereiro fazia a porta bater insistentemente, mostrando a força do tempo. Minutos corriam e corriam e o garoto ouvia imóvel os mesmos cds. Havia tanto para ser mudado, que ele mal sabia por onde começar, por isso, não fazia nada, deixava o tempo correr, mas sentia na pele que o tempo nada faz sozinho. Mas por hora só sentir já basta. Planejava. Sempre planejava, e aquela não era uma tarde diferente. Planejava. Sonhava o modo como o tempo ia encaixar tudo, mas logo voltava a se lembrar que o tempo nada faz sozinho e chorava. A porta havia parado de bater, tinha se fechado.
- Você está triste? – Uma voz lhe perguntava atrás da porta.
- Não. – Respondeu.
Não estava triste, ele apenas não sabia por onde começar. Ele apenas estava tendo uma crise de fé. Não de fé divina mas de fé em tudo.
- Crise de fé aos 18 anos? – Zombava sua voz otimista.
- Ué? Sempre fui precoce. – tentava explicar de maneira simples o que tanto lhe incomodava. Ele nunca experimentou uma dor maior do que esta, mas isto se explica pelo fato desta dor lhe impedir de experimentar outras dores.
Ele voltou seus olhos para a janela, adorava ver o céu, ou melhor, dentre as coisas que fazia ver o céu era o que mais se aproximava de uma alegria. Algo no céu o atraia, não atraia para grandes idéias, mas para uma passiva contemplação, ele vislumbrava toda uma vida que estava por vir, mas que só conseguia esperar. Esperar com medo.

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