sábado, abril 30, 2005

Notívago

Você me lembra porque eu gosto de vampiros.
Você me lembra uma desnutrição voluntária.
Você me lembra a bondade indiferente.
Você me lembra a minha impaciência.
Você me lembra todos os olhos que eu já vi.
Você me lembra um grande passado que nunca aconteceu.
Você me lembra um passado que não acontecerá.
Você me lembra o que eu procuro na TV.
Você me lembra o que eu já li e escrevi.
Você me lembra vontade de ter cabelo comprido.
Você me lembra do chão frio em que eu deitei.
Você me lembra de quando eu testava a minha força
[encostando a mão no bule quente.
Você me lembra o meu pé frio de manhã.
Você me lembra a todo instante o quanto eu sou sozinho.
Você me lembra um corredor cheio de desconhecidos.
Você me lembra quando eu me molho na chuva.
Você me lembra o choque que eu levo quando eu ligo o chuveiro.
Você me lembra uma doença boa.
Você me lembra ralar o joelho no asfalto quente.
Você me lembra de comer verduras e legumes.
Você me lembra amassar e amassar papéis.
Você me lembra o porque de se apaixonar descontroladamente.
Você me lembra o que tanto eu procuro...
... Na noite...

*Antes que eu me esqueça feliz aniversário João, Talita, linda, necessária, maravilhosa e absoluta, e Pablo.*

domingo, abril 24, 2005

Fones de ouvido

legal dormir ouvindo a sua fita ontem a noite
sons passam pelos músculos
estes movimentos abstratos
sem palavras
começam fora das células que nunca antes foram
tocadas

nada será como antes
Eu gosto desta ressonância
isto me eleva
Eu não me reconheço
isto é muito interessante

(Música da Björk, do cd Telegram, que eu também vou comprar.)

Prólogo: este texto é um texto idiota que eu escrevi no começo do ano passado, quando eu tinha decidido escrever algo por semana, mas eu na época achei ele idiota, agora olhando ele de novo, até que é legalzinho...

Nascimento

O nascer do Sol nunca foi tão bonito para ele. Ele via as cores, as novas cores, pouco a pouco surgirem no horizonte, ouvia atento cada som, podia ouvir o murmurejo de casais que acabavam de acordar longe dali, podia ouvir o bater dos corações, os passos ainda lentos que demonstravam o despertar de vontades, podia ouvir com clareza o som de uma folha de arvore que caiu tocar o chão, agora podia. Nunca havia experimentado os sentidos, não verdadeiramente, mas agora cada expressão do sentir lhe causava um prazer novo. Estava pouco a pouco se adaptando a sua nova situação, havia visto seu corpo apodrecer lentamente, dando espaço para seu novo ser, mais leve, sem culpas. Nunca imaginou que no verdadeiro estado podia sentir os mais variados sentimentos, sentimentos novos, podia e sentia todos os níveis de amor ao mesmo tempo, só por existir. Adivinhava os pensamentos ao seu redor, ou melhor, via os pensamentos ao seu redor, nada lhe era escondido, nada se tornava estranho ou confuso para ele, tudo se encaixava, tudo tinha o seu lugar e o seu tempo de ser, e ele respeitava isso e era. Apenas sendo experimentava todo tipo de sensação e via, ver não era bem a palavra, pois agora livre de seu corpo pesado ele sentia as sensações dos antigos sentidos em todo o seu ser, todo o seu ser era audição, todo o seu ser era olfato, todo o seu ser era paladar, todo o seu ser era tato, todo o seu ser era visão, todo o seu ser era pensamento, mesmo que sua forma ainda fosse a antiga e fosse visto e reconhecido como antes, já não havia barreiras físicas para seus sentidos, e todos os sentidos tinham a abrangência do pensamento, pois todos os sentidos são pensamentos em essência e neste novo estado não há limites de sentidos, o número de sentidos é o número de pensamentos, ou seja, infinitos. Este era seu ultimo nascimento verdadeiro e a felicidade era constante, todos em seu estado se bastavam, por isso não havia uniões por complementos, não havia mais duas metades de laranja que se unem e se complementam, havia agora individualidades independentes que se unem por afinidades, todas às uniões eram eternas e não havia monogamia, todos podiam se ligar a todos, pois não havia o medo, a posse, só a felicidade. Ele era feliz.

domingo, abril 10, 2005

Lembranças de infância

Tava toda criançada brincando de bola na rua, e as meninas conversando nos portões, quando começou a esfriar e de repente numa troca de olhares a brincadeira já era esconde-esconde, e todos participavam aflitos para não serem encontrados e terem que desempenhar a humilhante tarefa de contar até cem rapidinho pulando entre as dezenas(1...2...29...34...54...68...100). Um dos garotos, no auge de sua agilidade dos sete anos, entrou num cano grande que se encontrava em uma construção, quando uma das garotas mais legais da rua perguntou se podia dividir aquele esconderijo, e podia. A aproximação dos corpos causava uma ansiedade no garoto que numa mistura de medo e anseio sentia seu coração disparar, ela tinha os cabelos mais perfumados, o que aos sete anos era ter cheiro de chiclete tuti-fruti ou maçã verde, e ela tinha. Os segundos passavam e passavam e havia no ar entre os dois aquele tentar segurar a respiração para não serem encontrados ou para esconder a ansiedade, era o amor. Inicio de amor. Num gesto meio inocente de criança eles se deram às mãos, que estavam frias e que se aqueciam aos poucos, quando se é criança as coisas acontecem tão fácil sei lá, parece que o que tem que ser apenas se expressa, deve ser porque as crianças ainda não têm aqueles porquês que martelam tanto a cabeça. Já se passavam minutos e nem eles mais lembravam porque estavam lá, apenas estavam. "Já vi vocês" gritou o menino que na hora carregava o fardo de ser quem procura e num momento mais inocente ainda os dois se soltaram e correram para conseguir se salvar e não ter que contar, ambos se salvaram, mas da janela já se ouviam os gritos de "ta na hora de tomar banho", "vamos entra que já ta frio", etc... E com olhares perdidos nos olhos do outro eles se despediram e tudo ficou na pilha das boas lembranças de infância...


Como alguém apaixonado
Ultimamente tenho ficado contemplando estrelas
Ouvindo violões como alguém apaixonado
Às vezes me surpreendo com as coisas
Principalmente quando você está por perto
Ultimamente parece que caminho apesar de ter asas
E cantar como alguém apaixonado
Quando eu olho para você me ilumino como uma nuvem
Me sentindo como alguém apaixonado

Às vezes eu me surpreendo com as coisas
Principalmente quando você está por perto

Ultimamente parece que caminho apesar de ter asas
Me deparo com coisas como alguém apaixonado
Quando eu olho para você me ilumino como uma nuvem
Me sentindo como alguém apaixonado
Como alguém apaixonado
Como alguém apaixonado

(Like someone in love, da Bjork, do cd Debut, que eu comprarei um dia...)

domingo, abril 03, 2005

Fim de semana em aberto

Tudo é tão falso que até entristece, mas dai eu tava pensando sobre alguns conceitos budistas e tudo voltou a fazer sentido, fazer sentido daquele jeito que as coisas podem fazer sentido, ou seja, não fazendo. Nenhuma pergunta foi respondida, tudo ficou na mesma, todo mundo tem uma resposta pra tudo, menos para as perguntas que eu tenho... Ah eu preciso de um amigo, não de uma pessoa que me fale que tudo vai ficar bem, que tudo vai dar certo, eu preciso de alguém que eu queira ser, é isso, eu não preciso de um amigo, eu preciso de um exemplo, alguém que tenha vivido o que eu quero viver e que possa me responder e me entender, que nem na musica The Boy With Thorn in His Side dos Smiths, quando ele fala : - E quando você quer viver, como você começa? Onde você deve ir? Quem você precisa conhecer? alguma coisa deste tipo que eu preciso, enfim, vamos por os pingos nos is, eu não sou feliz, pronto falei, a vida é tão tediosa, falsa, desnecessária, eu queria ser parte do esquecimento ou algo do genero, eu queria fazer alguma coisa que realmente me tocasse, e não apenas viver por viver, eu queria fazer alguma coisa que realmente me fizesse querer acordar de manhã, eu estou tão cansado de ficar anestesiado do mundo no mundo, voltando ao exemplo que eu quero seguir, pensando bem não precisa ser um exemplo, poderia ser alguém para seguir comigo... Tudo parece tão bom na teoria, lembrar do que nunca aconteceu dá um tom bonito pra vida, mas só, e este tom nem é tão bonito quanto um tom de uma vida... Bom, eu quero por um fim nisso, no texto, por isso eu vou deixar em aberto por falta de fim... Pensando bem um bom fim seria a musica abaixo, dos Smashing Pumpkins, acho que todos conhecem, até semana que vem...
1979
Dureza 1979, garotos legais nunca têm vez
Num cabo elétrico bem encima da rua
Eu e você nos encontraremos
Besouros ricocheteiam como pedras
Com os faróis apontados pro amanhecer
Estavamos certos de que nunca veríamos um fim praquilo tudo
E eu nem me importo de me livrar desse uniforme azul
E nós não sabemos
Onde nossos ossos descansarão
Virarão pó, suponho
Esquecidos e absorvidos pela terra
Sacaneie os ociosos e entediados
Eles não tem certeza do que nós temos guardado
A Cidade-Morfina cobrando taxas até ver
Que nem nos importamos, incansáveis que nós somos
Sentimos a influência na terra das milhares de culpas
E do cimento derramado, lamentado e autorizado
Nos faróis e cidades da Terra
Mais rápido do que a velocidade do som
Mais rápido do que pensávamos que iríamos
Coberto pelo som da esperança
Justine nunca conheceu regras
Se Uniu aos Dementes e Doentios
Desculpas nem precisam ser pedidas, Te conheço melhor do que
você finge
Pra Notar, que nós nem nos importamos de nos livrarmos do
uniforme azul
E nós não sabemos onde nossos ossos descansarão
Virarão pó, suponho
Esquecidos e absorvidos pela terra
A rua intensifica a importância de ecoar
Como dá pra ver não há ninguem por perto