domingo, abril 24, 2005

Fones de ouvido

legal dormir ouvindo a sua fita ontem a noite
sons passam pelos músculos
estes movimentos abstratos
sem palavras
começam fora das células que nunca antes foram
tocadas

nada será como antes
Eu gosto desta ressonância
isto me eleva
Eu não me reconheço
isto é muito interessante

(Música da Björk, do cd Telegram, que eu também vou comprar.)

Prólogo: este texto é um texto idiota que eu escrevi no começo do ano passado, quando eu tinha decidido escrever algo por semana, mas eu na época achei ele idiota, agora olhando ele de novo, até que é legalzinho...

Nascimento

O nascer do Sol nunca foi tão bonito para ele. Ele via as cores, as novas cores, pouco a pouco surgirem no horizonte, ouvia atento cada som, podia ouvir o murmurejo de casais que acabavam de acordar longe dali, podia ouvir o bater dos corações, os passos ainda lentos que demonstravam o despertar de vontades, podia ouvir com clareza o som de uma folha de arvore que caiu tocar o chão, agora podia. Nunca havia experimentado os sentidos, não verdadeiramente, mas agora cada expressão do sentir lhe causava um prazer novo. Estava pouco a pouco se adaptando a sua nova situação, havia visto seu corpo apodrecer lentamente, dando espaço para seu novo ser, mais leve, sem culpas. Nunca imaginou que no verdadeiro estado podia sentir os mais variados sentimentos, sentimentos novos, podia e sentia todos os níveis de amor ao mesmo tempo, só por existir. Adivinhava os pensamentos ao seu redor, ou melhor, via os pensamentos ao seu redor, nada lhe era escondido, nada se tornava estranho ou confuso para ele, tudo se encaixava, tudo tinha o seu lugar e o seu tempo de ser, e ele respeitava isso e era. Apenas sendo experimentava todo tipo de sensação e via, ver não era bem a palavra, pois agora livre de seu corpo pesado ele sentia as sensações dos antigos sentidos em todo o seu ser, todo o seu ser era audição, todo o seu ser era olfato, todo o seu ser era paladar, todo o seu ser era tato, todo o seu ser era visão, todo o seu ser era pensamento, mesmo que sua forma ainda fosse a antiga e fosse visto e reconhecido como antes, já não havia barreiras físicas para seus sentidos, e todos os sentidos tinham a abrangência do pensamento, pois todos os sentidos são pensamentos em essência e neste novo estado não há limites de sentidos, o número de sentidos é o número de pensamentos, ou seja, infinitos. Este era seu ultimo nascimento verdadeiro e a felicidade era constante, todos em seu estado se bastavam, por isso não havia uniões por complementos, não havia mais duas metades de laranja que se unem e se complementam, havia agora individualidades independentes que se unem por afinidades, todas às uniões eram eternas e não havia monogamia, todos podiam se ligar a todos, pois não havia o medo, a posse, só a felicidade. Ele era feliz.

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